sexta-feira, abril 25

O que fazer para alfabetizar?

O RS é um estado privilegiado, tem o menor índice de analfabetismo. Em 2000 os dados apontaram 6,7% da população acima de 15 anos, com uma força produtiva concentrada na indústria e agro-pecuária e escolarizada, chegando ao ensino superior, caso raro nos estados, por exemplo, no nordeste. Com problemas, em locais específicos com grupos de baixa escolarização e analfabetismo. Porém, há uma preocupação por parte dos educadores com os programas, hoje, Alfabetiza... , implantados pelas políticas públicas com apoio de entidades não governamentais, todos até agora têm sido paliativos, pois não trouxeram resultados, isto é o resgate da cidadania plena do indivíduo nem educação de qualidade. Isso, se muitas vezes, pelos critérios de encaminhamentos, muitos deles entregam a alfabetização na mão de pessoas inesperientes, sem habilitação específica, fora do contexto da escola. Nada contra essas pessoas que de boa vontade querem ajudar, mas alfabetizar exige conhecimentos teóricos e práticos, pois a apropriação da língua portuguesa é muito complexa e a nossa escrita muito mais, daí a necessidade de conhecimentos: fonológicos, sintáticos, morfológicos, léxicos e pragmáticos. Como um leigo alfabetizaria? Contrariando todas as políticas públicas e programas que já passaram desde o Mobral...as autoridades já deveriam ter desconfiado que estão trilhando o caminho às avessas, senão o problema estaria sanado. Não acham?
Como se isso não bastasse, o RS hoje atravessa o mais grave retrocesso na educação, pois após 27 anos de serviço na rede pública voltei aos meus tempos de estréia no magistério, com multisseriação, enturmação, etc. Será que os frutos dessa desestruturação não irá repercutir na sociedade com elevação de índices de "analfabetos funcionais"?
Como educadora, isso me preocupa, pois não há uma análise do contexto da sociedade, nem quem são os estudantes de hoje. Atualmente, as crianças, os adolescentes e os adultos estão ávidos de saber, os anseios e as necessidades são outras, diferentes do início do século passado; os estudantes têm outras expectativas da escola e dos professores, as exigências são outras, por isso a metodologia de trabalho, os investimentos em recursos ( principalmente os tecnológicos)
devem ser diferenciados, a formação continuada dos docentes deve ter um olhar mais analítico com apoio ao trabalho docente, considerando que temos uma diversidade nas nossas salas de aula.
No século XXI, temos crianças e jovens cheios de esperanças e, outros, com uma história de vida e trabalho com dificuldades, necessidades e desejos, de uma escola com outra estrutura, com outros equipamentos, metodologias diferenciadas para atender a heterogeneidade da demanda bem como a espera de um educador que tenha , pelo menos dignidade na sua profissão. Tudo isso demanda uma nova pedagogia em termos de paradigmas para o ensinar/aprender dos estudantes.
Nesse sentido, é necessário revermos as concepções teóricas para o desenvolvimento de uma aprendizagem significativa, isto é uma alfabetização de qualidade, pois o fenômeno do analfabetismo só será minimizado com uma boa dose de vontade política, principalmente com o cumprimento da legislação. Assim, se levássemos em conta as Diretrizes Curriculares da Educação já era um bom começo, poder-se-ia resgatar a cidadania plena do sujeito e muitos jovens que estão à margem dos bens culturais da humanidade, pela condição do analfabetismo,
poderiam estar incluídos nos meios acadêmicos, dos quais têm direito. Mas tudo isso se faz com investimento na educação, coisa que está sendo cortada pelo governo. O que será das gerações futuras meus colegas educadores?

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